A questão sobre a existência de Deus é uma das mais antigas e intrigantes da filosofia e da teologia. Mas antes de entrarmos nesse debate, precisamos entender um ponto fundamental: o próprio conceito de “existir”.
Pode parecer chocante, mas, etimologicamente falando, Deus não “existe”. Antes de você pensar que este texto virou um manifesto ateísta, vamos analisar melhor essa ideia.
A palavra “existir” vem do latim existere, que significa “sair de”, “ser extraído de algo”. Pense nas palavras “êxodo” (saída), “ex-namorado” (alguém que saiu da relação) ou “exit” (saída, em inglês). Algo que existe é algo que derivou de outra coisa.
Mas Deus não derivou de nada. Ele é o princípio absoluto. Por isso, filosoficamente falando, Deus não “existe” — Ele É. Essa ideia, inclusive, se encaixa na famosa descrição bíblica: “Eu Sou o que Sou” (Êxodo 3:14).
Agora, vamos aprofundar esse raciocínio.
Por que existe algo ao invés de nada?
Se você quer fazer um cético ou um ateu refletir, comece com essa pergunta simples e poderosa:
“Por que existe algo ao invés de nada?”
Muitos filósofos e cientistas consideram essa uma das questões mais profundas. René Descartes, por exemplo, formulou um pensamento que ficou eternizado:
“Dubito, ergo cogito. Cogito, ergo sum.”
Ou seja: “Duvido, logo penso. Penso, logo existo.”
Descartes percebeu que ele poderia duvidar de tudo — do mundo ao seu redor, das pessoas, até mesmo da própria percepção dos sentidos. Mas havia uma coisa da qual ele não poderia duvidar: o fato de que ele estava pensando. Se ele pensa, então ele existe.
Essa é a base do raciocínio cartesiano e também um ponto de partida para a reflexão sobre Deus.
Teorema da Incompletude de Gödel
Imagine que você encontre um cartão de crédito no meio do deserto, mas estamos na Idade Média. Para qualquer pessoa daquela época, esse cartão não teria utilidade alguma. Ele seria apenas um pedaço de plástico.
Agora, traga esse mesmo cartão para o século XXI e passe-o em uma loja. Ele faz sentido porque está ligado a um sistema bancário, um sistema que existe fora dele.
Kurt Gödel, um dos maiores matemáticos do século XX, formulou o Teorema da Incompletude, que, de forma simplificada, nos diz que um sistema não pode ser completamente explicado por ele mesmo — ele precisa de algo externo a ele para fazer sentido.
Se aplicarmos essa lógica ao universo, chegamos a uma conclusão interessante:
Se o universo fosse tudo o que existe, ele não poderia ser explicado por nada externo. Isso significaria que ele não teria sentido. Assim como um cartão de crédito sem um sistema financeiro.
Mas se existe algo além do universo — uma realidade transcendente, um Criador — então o universo passa a fazer sentido.
Filosofia, ciência e religião
A questão da existência não é exclusiva da teologia. A ciência e a filosofia também tentam responder a ela. Vamos ver os diferentes pontos de vista:
1. Filosofia:
Desde Platão e Aristóteles, a filosofia se pergunta: “O que originou tudo?” A resposta varia conforme a corrente filosófica, mas a questão fundamental permanece: algo não pode vir do nada.
2. Religião:
As religiões monoteístas, como Cristianismo, Judaísmo e Islamismo, afirmam que o universo foi criado por Deus. O primeiro versículo da Bíblia já começa afirmando isso:
“No princípio, criou Deus os céus e a terra.” (Gênesis 1:1)
3. Ciência:
A ciência propõe teorias sobre como o universo surgiu, mas ainda não consegue explicar por que ele surgiu. O modelo do Big Bang, por exemplo, descreve a expansão inicial do universo, mas não responde à pergunta fundamental: “O que causou o Big Bang?”.
Até mesmo físicos como Stephen Hawking admitiram que a origem última do universo é um mistério não resolvido.
O propósito da vida e o sentido da existência
Se aceitarmos que o universo foi criado, então surge outra pergunta: existe um propósito para nossa existência?
O que diferentes crenças dizem sobre o propósito da vida?
Cristianismo, Judaísmo e Islamismo:
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- O propósito da vida está ligado a um Criador e a um destino eterno.
- A vida tem significado porque há um Deus que nos criou com um propósito.
Filosofias Existencialistas (como Sartre e Camus):
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- Não há um propósito inerente à vida; cabe a cada pessoa criar seu próprio significado.
- Não há um propósito inerente à vida; cabe a cada pessoa criar seu próprio significado.
Essa diferença de visão muda completamente a forma como encaramos a vida. Se Deus existe, então há algo além da morte. Se Ele não existe, então tudo o que somos se dissolve no nada.
A resposta está fora do universo
Se há algo que a filosofia e a ciência concordam é que o universo não pode explicar a si mesmo. Para que a existência tenha sentido, precisamos considerar a possibilidade de algo além do próprio universo.
Afinal, se um cartão de crédito só faz sentido porque está ligado a um sistema externo, por que o universo seria diferente?
Se existe algo além do universo, então a pergunta “Deus existe?” deixa de ser apenas uma questão de fé e se torna uma questão de lógica.
Assista a aula completa sobre o tema no vídeo abaixo.