A esperança messiânica de Eva

Por <b>Rodrigo Silva</b>

Por Rodrigo Silva

Arqueólogo

Desde os primeiros capítulos de Gênesis, há um forte indício de que a humanidade esperava por um Salvador. Após a queda, Deus fez uma promessa a Eva:

 

“Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar.” (Gênesis 3:15)

 

Esse versículo é visto como a primeira profecia messiânica, indicando que um descendente da mulher esmagaria Satanás. Diante disso, surge a questão: Eva acreditava que seu primogênito seria esse Salvador?

 

Quando Caim nasceu, Eva declarou:

 

“Adquiri um varão com o auxílio do Senhor.” (Gênesis 4:1)

 

No original hebraico, o texto levanta uma possibilidade intrigante. Algumas traduções sugerem que Eva poderia estar dizendo:

 

“Adquiri um varão, o Senhor.”

 

Isso significaria que ela enxergava Caim como o próprio Deus encarnado, ou ao menos como o Messias prometido. Essa interpretação é debatida entre estudiosos. Alguns argumentam que Eva via Caim como um cumprimento imediato da promessa de Deus, enquanto outros afirmam que a frase apenas reconhece o auxílio divino no nascimento.

 

Independentemente da leitura exata, esse versículo mostra que a expectativa pelo Messias já existia desde os primórdios da humanidade.

 

A invocação do nome do Senhor

 

Mais adiante, Gênesis 4:26 menciona que, após o nascimento de Enos, filho de Sete, “os homens começaram a invocar o nome do Senhor”. O verbo hebraico “leqro” (לִקְרוֹא) significa tanto invocar quanto proclamar. Isso indica que, nesse período, houve um fortalecimento da fé e um reconhecimento mais amplo de Deus.

 

Dessa forma, há uma progressão clara: primeiro, Eva menciona o nome do Senhor no nascimento de Caim; depois, gerações mais tarde, as pessoas passam a invocar e proclamar coletivamente o nome de Deus.

 

O arrependimento de Deus em Gênesis 6:6

 

Um dos versículos mais intrigantes da Bíblia aparece em Gênesis 6:6:

 

“Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem sobre a terra, e isso lhe pesou no coração.”

 

A palavra hebraica usada aqui para “arrependeu-se” é “nacham” (נָחַם), que carrega um significado mais amplo do que o simples conceito humano de arrependimento.

 

Diferente do verbo “shuv” (שׁוּב), que significa “mudar de direção” (como um pecador que se arrepende e volta atrás), “nacham” expressa um pesar profundo, um suspiro de tristeza diante de algo que não deveria estar acontecendo.

 

É importante entender que esse arrependimento de Deus não significa erro ou mudança de planos. Em outras passagens bíblicas, como Números 23:19 e 1 Samuel 15:29, a Escritura afirma que Deus não se arrepende como os humanos.

 

O que Gênesis 6:6 descreve é a dor de Deus ao ver a humanidade corrompida pelo pecado. Assim como um pai se entristece ao ver um filho tomando decisões destrutivas, Deus expressa um pesar sincero ao testemunhar a degradação da criação.

 

Continue estudando

A narrativa de Gênesis revela um desenvolvimento claro da fé e da expectativa messiânica. Desde Eva, que pode ter visto em Caim o cumprimento da promessa, até a invocação do nome do Senhor na época de Enos, a busca pela redenção estava presente desde o início.

 

O arrependimento de Deus, por sua vez, não indica erro, mas sim um pesar profundo pelo pecado humano. Ele demonstra que Deus não é indiferente às escolhas da humanidade e deseja restaurar Sua criação.

 

Essas reflexões nos convidam a considerar nossa própria relação com Deus. Será que nossas ações trazem alegria ao Senhor, ou causam pesar? Que possamos viver de forma a honrar Aquele que nos criou e deseja nosso bem.

 

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