A expectativa messiânica na época de Jesus e o papel de Herodes

Por <b>Rodrigo Silva</b>

Por Rodrigo Silva

Arqueólogo

Na época do nascimento de Jesus, tanto judeus quanto romanos viviam sob a expectativa da chegada de um Salvador. Para os judeus, essa esperança estava nas antigas profecias que falavam de um Messias, um rei ungido por Deus para restaurar Israel. Já no mundo romano, a crença era de que essa figura estava representada no imperador Augusto César.

 

O salvador dos romanos

 

Os romanos viam em Augusto César a figura de um governante divino. As moedas daquela época traziam seu nome como “filho de Deus”, e uma estrela brilhante era associada a ele, representando a divinização de Júlio César, que supostamente teria se tornado um cometa após sua morte. Esse simbolismo fortalecia a ideia de que Augusto era um líder celestial enviado para governar o império.

A profecia messiânica entre os judeus

 

Do outro lado, no mundo judaico, existia uma forte crença de que o Messias estava prestes a surgir. Textos bíblicos e não bíblicos falavam de um governante que viria do Oriente para dominar o mundo. Alguns historiadores, como Suetônio e Flávio Josefo, relatam que essas profecias foram interpretadas de formas diferentes: alguns acreditavam que elas se cumpriram em líderes romanos como Vespasiano e Augusto, enquanto os judeus tinham certeza de que esse libertador viria do seu próprio povo.

 

Mas então, como Herodes, um rei imposto pelos romanos, tentou se encaixar nessa narrativa messiânica?

 

Herodes, o Grande

 

Herodes, conhecido como “o Grande”, foi o primeiro rei judeu após o período dos Macabeus e Asmoneus. No entanto, sua ascensão não foi por aclamação popular, mas sim por imposição do Império Romano. Ele não era visto com bons olhos pelos judeus, pois era de ascendência meio judia, meio idumeia, o que gerava desconfiança entre o povo.

 

Ciente dessa rejeição, Herodes fez de tudo para conquistar a afeição dos judeus. Uma de suas estratégias foi transformar a Judeia em um verdadeiro canteiro de obras, construindo palácios, fortalezas, estradas e monumentos grandiosos. Sua intenção era mostrar poder e impressionar a população, tentando se apresentar como o líder esperado.

 

As construções de Herodes

 

Herodes investiu pesadamente em infraestrutura, deixando um legado arquitetônico impressionante. Entre suas principais obras, destacam-se:

 

  • O Porto de Cesareia Marítima: O segundo maior porto do Império Romano, atrás apenas do de Roma. Era um centro comercial e administrativo importante, contendo hipódromos, teatros e casas romanas.
  • O Palácio de Massada: Construído no alto de uma montanha no deserto da Judeia, com saunas, piscinas termais e um sofisticado sistema hidráulico para levar água ao topo.
  • O Herodium: Um palácio fortificado em cima de uma montanha, onde Herodes desejava ser sepultado. Para sua construção, a montanha foi literalmente cortada e remodelada, sem o uso das tecnologias modernas que temos hoje.
  • A Ampliação do Templo de Jerusalém: Herodes expandiu a plataforma do templo para torná-lo uma das maiores e mais impressionantes construções do mundo antigo.

Essas obras demonstravam sua ambição, mas não foram suficientes para torná-lo amado pelos judeus.

 

A moeda de Herodes e sua tentativa de se apresentar como Messias

 

Outro indício de que Herodes tentou se colocar como o Messias pode ser visto em suas moedas. Diferente dos imperadores romanos, ele evitava colocar sua própria imagem para não ofender os judeus. No entanto, seus símbolos falavam por si:

 

  • Um capacete militar: Indicando seu desejo de ser visto como um líder guerreiro.
  • Um trono: Representando sua autoridade sobre os judeus.
  • Uma estrela sobre o capacete: Ligando-se à crença de que a chegada do Salvador seria marcada por um astro celestial, assim como Augusto César havia feito com a estrela de Júlio César.
  • O monograma de “Cristos” (Messias) em grego: O que sugere que Herodes poderia ter tentado se proclamar o Messias.

 

Essa associação de sua imagem com a figura messiânica pode explicar por que ele ficou tão perturbado quando ouviu falar do nascimento de Jesus.

 

Os magos do oriente e a estrela do verdadeiro rei dos judeus

 

A narrativa bíblica conta que, durante o reinado de Herodes, magos do Oriente chegaram a Jerusalém perguntando:

 

“Onde está o recém-nascido Rei dos Judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.” (Mateus 2:1-2)

 

Essa pergunta foi um golpe para Herodes. Afinal, ele já havia se esforçado tanto para consolidar sua imagem como o Messias, e agora surgia um bebê que era chamado de “Rei dos Judeus”?

 

A estrela mencionada pelos magos faz um forte contraste com a estrela usada pelos romanos e por Herodes para legitimar seu poder. Para os magos, a verdadeira estrela messiânica não apontava para Augusto ou Herodes, mas sim para Jesus.

 

O impacto da chegada de Jesus

 

Quando Herodes percebeu que os magos estavam em busca de outro Rei dos Judeus, sentiu-se ameaçado e tomou medidas drásticas, ordenando a matança dos meninos em Belém na tentativa de eliminar Jesus. Esse evento, conhecido como o “Massacre dos Inocentes”, revela até que ponto ele estava disposto a ir para proteger seu poder.

 

Mas, diferentemente de Herodes e dos imperadores romanos, que usavam símbolos e estratégias políticas para se autoafirmar, Jesus não precisou de construções grandiosas ou moedas para ser reconhecido. Seu impacto atravessou os séculos e mudou a história, tornando-se o verdadeiro Messias que muitos aguardavam.

 

O verdadeiro Salvador

 

A história da expectativa messiânica na época de Jesus nos mostra como diferentes grupos interpretavam a chegada de um Salvador. Os romanos viam Augusto como um deus, Herodes tentou se associar à figura messiânica, mas foram os magos do Oriente que reconheceram Jesus como o verdadeiro Rei dos Judeus.

 

Enquanto os poderosos buscavam legitimar sua autoridade por meio de obras e símbolos, Jesus veio de maneira humilde, mas com um impacto que nenhum império conseguiu apagar.

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