O ato de dar o dízimo na Bíblia

Por <b>Rodrigo Silva</b>

Por Rodrigo Silva

Arqueólogo

Quando se fala de fé e dinheiro, sempre pisamos em um terreno sensível, sendo necessário, às vezes, desconstruir entendimentos equivocados, que não são encontrados nas Escrituras Sagradas, muito devido aos maus exemplos. Nesse texto, vou explicar alguns aspectos importantes sobre o ato de dar o dízimo.

 

Dizimo
A prática do dízimo é bastante importante para apoiar as igrejas em suas ações de contribuição com os necessitados. | Foto: Freepik.

A primeira menção do dízimo na Bíblia

Há um grande equívoco e dilema relacionado com o assunto do dízimo por conta do que as pessoas já ouviram com frequência a respeito desse tema, mas, apesar disso, ainda há um preceito e um princípio que encontramos na Bíblia.

 

Olhando para a Escritura Sagrada, encontramos já um episódio sobre esse tema em Gênesis, com Abraão e Melquisedeque. A história do dízimo que Abraão deu a Melquisedeque é narrada em Gênesis 14:18-20. O contexto é que houve uma guerra entre quatro reis contra cinco reis na região de Sodoma e Gomorra. Durante essa guerra, Ló, sobrinho de Abraão, foi capturado e levado como prisioneiro. Abraão, então, reuniu seus homens e foi em busca de resgatar seu sobrinho.

 

Após vencer a batalha e libertar Ló, Abraão foi abençoado por Melquisedeque, que era rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo. Melquisedeque trouxe pão e vinho para Abraão e seus homens e abençoou Abraão em nome do Deus Altíssimo. Em resposta à bênção, Abraão deu a Melquisedeque o dízimo de tudo o que havia conquistado na batalha.

 

O dízimo é uma prática que envolve a oferta de uma décima parte dos ganhos ou rendimentos como forma de honrar a Deus.  Na passagem em questão, a oferta do dízimo por Abraão a Melquisedeque é vista como um ato de reconhecimento da bênção que havia recebido de Deus e como uma forma de honrar o sacerdote do Deus Altíssimo.

 

Essa história é vista como um precedente para a prática do dízimo entre os judeus e cristãos, e é frequentemente citada como um exemplo de generosidade e fidelidade a Deus.

 

 

A prática do dízimo no antigo testamento

O plano de Deus inicialmente para o povo foi que eles não tivessem rei, e a capital do território deles era onde se encontrava o tabernáculo. Nessa cultura, eles peregrinavam até o santuário, para festejar, se lembrar dos feitos de Deus e adorar. Essas três festas eram:

 

  • Páscoa (Pesach): é celebrada em comemoração à libertação dos judeus da escravidão no Egito, conforme relatado na história do Êxodo na Bíblia. A festa é marcada por uma ceia especial, o Seder, durante o qual são lidos relatos da história e realizadas diversas práticas simbólicas, como comer pão sem fermento e ervas amargas.

 

  • Pentecostes (Shavuot): é celebrado sete semanas após a Páscoa e marca a entrega da Torá (lei judaica) no Monte Sinai. É uma festa de alegria e gratidão, durante a qual os judeus renovam seu compromisso com a observância da Torá.

 

  • Festa dos tabernáculos (Sucot): celebra a proteção divina dada à geração dos judeus libertada do Egito. Para isso, o santuário necessitava ser mantido pela tribo de Levi e, tendo em vista que era uma época que as pessoas viviam da mão de obra e trabalhos agrícolas, era necessário que os sacerdotes, a serviço do tabernáculo, fossem assim sustentados pelo povo.

 

A passagem sobre o dízimo para a tribo de Levi pode ser encontrada em Números 18:21-24, que diz o seguinte:

 

“Aos filhos de Levi, eis o que disse o Senhor: Quando receberdes dos filhos de Israel os dízimos que vos dou como herança, reservareis para o Senhor um dízimo desses dízimos. Esse dízimo, que pertencerá ao Senhor, será consagrado pelos levitas como oferta, e dele tirarão um dízimo para oferecer ao Senhor. O dízimo que receberdes dos filhos de Israel será a vossa parte da herança. Por isso, oferecereis ao Senhor o dízimo que tiverdes recebido dos filhos de Israel, e dele dareis a Aarão, o sacerdote.”

 

Essa passagem mostra que, entre os israelitas, a tribo de Levi era escolhida por Deus para servir como sacerdotes e ministros no Tabernáculo. Como parte de seu serviço, eles não receberam terras ou propriedades, mas foram sustentados por meio dos dízimos que os outros israelitas davam a Deus, que na época, não se tratava de dinheiro ou bens, mas as primícias agrícolas, animais, siclos de prata e ofertas de materiais ao tabernáculo. Assim, as ofertas visavam a manutenção do tabernáculo e a sobrevivência e sustento daqueles que trabalhavam integralmente como sacerdotes.

 

 

Dízimo no Novo Testamento

No Novo Testamento, o dízimo é mencionado em algumas passagens, principalmente nos Evangelhos, nas cartas de Paulo e em Hebreus. Aqui estão alguns exemplos:

 

Mateus 23:23 – “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas.” Nessa passagem, Jesus repreende os fariseus por se preocuparem em dar o dízimo de suas plantas, mas negligenciam a prática da justiça, misericórdia e fé. Isso mostra que, para Jesus, a prática do dízimo não era o mais importante, mas sim a atitude do coração.

 

Lucas 18:12 – “Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.”. Nesse trecho, um fariseu se vangloria de sua prática do dízimo e do jejum. Isso mostra como a prática do dízimo era valorizada na cultura religiosa da época.

 

Hebreus 7:1-10 – Nesta passagem, o autor de Hebreus faz uma comparação entre Melquisedeque, um sacerdote do Antigo Testamento, e Jesus, o Sumo Sacerdote da Nova Aliança. Ele enfatiza que Abraão deu o dízimo a Melquisedeque e que, de maneira semelhante, os cristãos devem honrar Jesus como seu Sumo Sacerdote.

 

1 Coríntios 16:1-4 – Neste trecho de Coríntios, Paulo fala sobre a coleta que estava sendo feita entre as igrejas para ajudar os santos em Jerusalém. Ele encoraja os coríntios a fazerem sua contribuição semanalmente e de acordo com sua prosperidade.

 

2 Coríntios 8:1-15 – Aqui, Paulo fala sobre a generosidade dos macedônios em sua contribuição para os santos em Jerusalém. Ele encoraja os coríntios a fazerem o mesmo e oferece orientação sobre como fazer isso com alegria e generosidade.

 

2 Coríntios 9:6-15 – Nesta passagem, Paulo incentiva os coríntios a darem com generosidade e alegria, lembrando que Deus ama quem dá com alegria e que Ele é capaz de suprir todas as necessidades.

 

Filipenses 4:10-20 – Aqui, Paulo agradece aos filipenses pela oferta que eles enviaram para ajudá-lo em suas necessidades enquanto estava preso. Ele também enfatiza que Deus suprirá todas as necessidades deles, de acordo com Suas riquezas em glória.

 

Esses são apenas alguns exemplos das passagens em que Paulo fala sobre ofertas de dinheiro. Em geral, o apóstolo encoraja os cristãos a serem generosos em sua contribuição para a obra de Deus e para ajudar os necessitados, sempre lembrando que Deus é o provedor e que Ele abençoa aqueles que dão com alegria e generosidade.

 

 

Princípio do dízimo

Mesmo em meio a polêmicas, é necessário entendermos o princípio por trás do ato do dízimo, como um ato de honra a Deus, e reconhecimento de que tudo que temos é dado por Ele. Isso descentraliza a questão do sustento sob os nossos esforços, nos faz exercer continuamente a generosidade e a fé na confiança em Deus, pois estamos sob seus cuidados e provisão, sendo necessário, por conta do contexto em que vivemos, tomarmos cuidado a respeito do lugar e igreja que vamos escolher para exercer essa prática.

 

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9 respostas

  1. Tenho uma dúvida dr !
    A Festa de Pentecostes…não é a comemoração da descida do Espírito Santo , 50 dias depois da ressuscitação de Cristo ???

    1. Olá, Brenda! Atualmente os dízimos estão diretamente vinculados com as igrejas. Não é necessário ser um membro, mas o processo está ligado a uma igreja.

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