A Bíblia, como a conhecemos hoje, não surgiu de uma única vez. Ela é uma coleção de livros escritos por cerca de 40 autores ao longo de 1.600 anos, do século 15 a.C. até o final do século 1 d.C.
Esses livros foram organizados e reconhecidos como inspirados por Deus, formando o cânon bíblico—ou seja, a lista oficial dos textos sagrados. Mas como essa seleção aconteceu? Como distinguir os livros verdadeiramente inspirados de outros escritos religiosos?
Vamos explorar os critérios usados pelos judeus e pela Igreja Primitiva para definir os livros que fazem parte da Palavra de Deus.
O que significa “Cânon Bíblico”?
A palavra “cânon” vem do grego kanón, que significa “regra” ou “medida”. Esse termo foi adotado pelos cristãos para indicar os livros sagrados que foram aceitos como inspirados por Deus.
Desde os tempos antigos, judeus e cristãos reconheceram certos livros como divinamente inspirados, enquanto outros foram considerados meros escritos históricos ou religiosos. Assim, o cânon bíblico serviu como uma “régua espiritual”, separando os livros verdadeiramente sagrados dos demais.
A formação do Antigo Testamento
O Antigo Testamento, composto por 39 livros (no cânon protestante), foi reconhecido pelos judeus séculos antes da vinda de Jesus. Os critérios para sua seleção incluíam:
- Língua Original: O texto deveria ser escrito em hebraico, com poucas exceções em aramaico (como partes de Daniel e Esdras).
- Uso na Comunidade Judaica: O livro precisava ser amplamente utilizado nas práticas religiosas.
- Temas Centrais: O conteúdo deveria tratar de temas fundamentais do judaísmo, como a aliança e a eleição de Israel.
- Datação: Os escritos deveriam ter sido produzidos antes da época de Esdras, pois acreditava-se que a inspiração profética cessou após esse período.
O Concílio de Jamnia (90 d.C.)
Embora os livros do Antigo Testamento já fossem reconhecidos como sagrados, o Concílio de Jamnia reafirmou o cânon judaico, excluindo livros considerados apócrifos (como Tobias e Macabeus).
A formação do Novo Testamento
Os 27 livros do Novo Testamento foram escritos no primeiro século d.C. e rapidamente circulavam entre as igrejas. No entanto, havia muitos outros escritos cristãos na época. Como então a Igreja Primitiva reconheceu quais eram verdadeiramente inspirados?
Os critérios utilizados incluíam:
- Autoria Apostólica: O livro precisava ter sido escrito por um apóstolo ou alguém diretamente ligado a eles (como Marcos, discípulo de Pedro, e Lucas, companheiro de Paulo).
- Aceitação pela Igreja Primitiva: Os cristãos das primeiras comunidades já usavam esses livros como Escrituras.
- Harmonia Doutrinária: O conteúdo deveria estar de acordo com os ensinamentos de Jesus e dos apóstolos.
- Transformação Espiritual: O texto deveria demonstrar poder para edificar a fé e transformar vidas.
Concílios de Hipona (393 d.C.) e Cartago (397 d.C.)
Esses concílios foram marcos importantes na oficialização do cânon do Novo Testamento, que já era amplamente aceito pelos cristãos.
Como os profetas eram reconhecidos?
Os profetas que escreveram as Escrituras precisavam demonstrar que sua mensagem vinha de Deus. Para isso, seguiam critérios como:
- Obediência a Deus – Um verdadeiro profeta sempre incentivava a fidelidade ao Senhor (Deuteronômio 13:1-4).
- Cumprimento de Profecias – Se uma profecia se cumpria, era prova de que o profeta falava em nome de Deus (Jeremias 28:9).
- Concordância com a Lei de Deus – As revelações precisavam estar alinhadas com as Escrituras anteriores (Isaías 8:19-20).
- Frutos Espirituais – A vida do profeta deveria refletir o caráter de Deus (Mateus 7:15-20).
- Enaltecimento de Cristo – Para os cristãos, um verdadeiro profeta exaltava Jesus (1 João 4:1-3).
Esses princípios ajudaram os crentes a discernir entre mensagens genuínas e falsos ensinamentos.
O reconhecimento das cartas de Paulo
Paulo, antes perseguidor dos cristãos, teve uma conversão radical e se tornou um dos principais autores do Novo Testamento. Mas como suas cartas foram reconhecidas como Escritura?
- Aceitação pela Igreja: Suas cartas circulavam entre as igrejas e eram lidas publicamente (Colossenses 4:16).
- Reconhecimento Apostólico: O apóstolo Pedro confirmou que os escritos de Paulo eram inspirados por Deus e equivalentes às demais Escrituras (2 Pedro 3:15-16).
- Citações de Cristo: Paulo citava ensinamentos de Jesus como parte das Escrituras (1 Timóteo 5:18, referindo-se a Lucas 10:7).
Com o tempo, ficou evidente para a Igreja que as cartas de Paulo eram divinamente inspiradas e essenciais para a fé cristã.
A Bíblia como palavra viva de Deus
A Bíblia não foi simplesmente “montada” por homens, mas reconhecida pela comunidade de fé como a Palavra inspirada de Deus.
Os critérios usados para definir o cânon foram rigorosos, garantindo que apenas os textos genuinamente inspirados fossem incluídos.
Hoje, ao lermos a Bíblia, podemos ter a certeza de que estamos diante de um livro divinamente preservado, que continua transformando vidas e guiando milhões de pessoas no caminho da verdade.
E você? Já parou para refletir sobre a importância da Bíblia na sua vida? Que essa jornada pelo processo de formação das Escrituras fortaleça sua fé e aumente seu desejo de conhecer mais a Palavra de Deus.
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