O inferno queimará para sempre?

Por <b>Rodrigo Silva</b>

Por Rodrigo Silva

Arqueólogo

A ideia de um inferno eterno, com almas queimando para sempre em um fogo inextinguível, é uma imagem poderosa e, para muitos, aterrorizante. Jesus menciona o “fogo que nunca se apaga” em várias passagens, o que leva muitos a acreditar que os ímpios estão destinados a sofrer por toda a eternidade. 

 

Mas será que essa ideia está em alinhamento com a justiça e a bondade de Deus? Curiosamente, existe até um nome para o medo irracional do inferno: radefobia, uma fobia que atinge não só os religiosos, mas também céticos, ateus e agnósticos. 

 

Mas, será que o inferno é mesmo um lugar onde as almas ficam queimando para sempre? Ou será que há algo mais por trás dessa imagem? Vamos descobrir.

 

A origem do medo do inferno  

 

O medo do inferno é algo enraizado em muitas tradições religiosas. No passado, figuras religiosas e políticas usaram o temor do inferno para controlar e influenciar pessoas. Um exemplo clássico foi Johann Tetzel, um pregador que convenceu muitos a doar dinheiro para a Igreja com a promessa de reduzir o tempo de suas almas no purgatório, e possivelmente evitar o inferno. O conceito de purgatório e inferno era muitas vezes usado para garantir lealdade e, em alguns casos, doações financeiras, como Tetzel fez para financiar a construção do Vaticano.

 

No entanto, vale ressaltar que a espiritualidade genuína e a relação com Deus não se baseiam no medo. De acordo com estudos psicológicos, quanto maior a espiritualidade de uma pessoa, menor o medo do inferno. Esse estudo recente derruba a ideia de que a religião precisa do medo do inferno para se legitimar. 

 

O que a Bíblia realmente diz sobre o inferno? 

 

Quando falamos sobre o inferno na Bíblia, é fundamental entender as palavras originais e seus contextos. Jesus mencionou o inferno 22 vezes, usando duas palavras principais para se referir a ele: Guena e Hades. 

 

– Guena: A palavra “Guena” refere-se ao Vale de Hinom, um local real nos arredores de Jerusalém onde o lixo da cidade era queimado. Era um lugar associado à morte e destruição, principalmente porque, na época dos reis apostatados, crianças eram sacrificadas a Moloque naquele local. Ao longo dos anos, esse vale foi transformado em um lixão onde havia fogo constante, o que ajudou a formar a ideia de um “fogo inextinguível”. Quando Jesus fala do fogo do inferno, ele muitas vezes usa essa imagem para simbolizar a destruição final, não um tormento eterno.

 

– Hades: Derivado do grego, “Hades” refere-se ao local dos mortos, e não necessariamente a um local de tormento eterno. É mais um estado de morte, onde os que não seguem a Deus estão separados da vida que Ele oferece.

 

Então, quando Jesus menciona o “fogo eterno” em passagens como Mateus 25:41, ele está se referindo a algo mais simbólico do que literal. O fogo inextinguível não significa que ele queimará para sempre, mas sim que seu impacto é irreversível.

 

O fogo não se apaga?

  

Um dos grandes pontos de confusão é a frase “fogo que nunca se apaga”, como mencionado em Marcos 9:43. Muitos interpretam isso como um fogo literal e eterno, mas, na verdade, essa expressão já era usada de forma figurativa no Antigo Testamento.

 

Em Jeremias 17:27, Deus avisa Jerusalém que, se ela não obedecesse ao mandamento do sábado, “poria fogo nas suas portas, e ele consumiria os palácios de Jerusalém, e não se apagaria”. Claro, Jerusalém não está queimando até hoje. O fogo “que não se apaga” refere-se à totalidade da destruição. Uma vez aceso, nada poderia deter aquele fogo até que ele cumprisse seu propósito de destruir completamente.

 

Outro exemplo está em Isaías 66:24, onde o profeta fala sobre cadáveres sendo consumidos por vermes e fogo que “não se apaga”. Novamente, estamos falando de corpos mortos, não de almas vivas, o que reforça a ideia de um fim completo e irreversível, e não de um sofrimento sem fim.

 

Eterno?

  

Um grande dilema teológico surge quando confrontamos a ideia de um inferno eterno com o conceito de justiça divina. Se Deus é justo e misericordioso, como poderia permitir que alguém sofra por toda a eternidade, especialmente se a vida terrena de pecado foi limitada a apenas algumas décadas? Isso não seria um exagero da punição?

 

A Bíblia também fornece várias passagens que parecem contradizer a ideia de um sofrimento eterno. Em Salmos 37:10, por exemplo, lemos que “em breve os ímpios deixarão de existir; embora os procurem, não serão encontrados”. Como pode alguém deixar de existir e ainda queimar para sempre? 

 

O conceito de um “fogo eterno” pode ser interpretado como algo com consequências eternas, em vez de duração eterna. Ou seja, o castigo dos ímpios é definitivo, mas não necessariamente um sofrimento interminável.

Justiça e misericórdia Divina  

 

Outro ponto a considerar é a ideia de que, se os ímpios continuarem vivendo no inferno por toda a eternidade, isso seria uma vitória para o mal. Afinal, Satanás teria conseguido manter uma porção da criação longe de Deus para sempre. No entanto, a Bíblia ensina que “vida” só existe em Deus. Portanto, se alguém está separado de Deus, isso significa que essa pessoa não pode continuar vivendo eternamente, nem mesmo no inferno.

 

Deus não se compara a um namorado possessivo, forçando os outros a segui-lo sob ameaça de morte. Ele é a fonte de toda a vida, assim como a água é essencial para o peixe. Se o peixe sair da água, ele não tem outra opção de vida. Da mesma forma, fora de Deus, não há vida possível. O inferno, portanto, pode ser visto como o fim completo, a separação definitiva da única fonte de vida.

 

Continue estudando

  

A ideia de um inferno com fogo eterno precisa ser vista sob uma nova luz. O fogo que “nunca se apaga” não é necessariamente um tormento infinito, mas uma metáfora para a destruição final e irreversível. Em vez de focarmos no medo do inferno, talvez devêssemos nos concentrar na vida que Deus oferece. Afinal, Ele nos chama para escolher a vida, e não para viver com o medo de um destino infernal.

 

Estude mais sobre esse tema assistindo ao vídeo abaixo.

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