O misterioso vale do inferno

Por <b>Rodrigo Silva</b>

Por Rodrigo Silva

Arqueólogo

Israel é um lugar onde a história, a fé e a arqueologia se encontram de maneira única. Em nenhum outro lugar isso é mais evidente do que no Vale de Geena, um local mencionado na Bíblia como “Vale do Inferno”. 

 

Hoje, essa área verde e pacífica esconde uma história sombria, marcada por sacrifícios humanos e cultos pagãos, que ainda ressoam na cultura e nas escrituras sagradas. Vamos caminhar juntos por esse vale, entender suas raízes históricas e refletir sobre o que podemos aprender com esse lugar tão carregado de significado.

 

 A história do Vale de Geena

 

Ao longo dos séculos, o Vale de Geena foi palco de práticas profundamente perturbadoras. Quando os israelitas chegaram à Terra Prometida, conhecida como Canaã, eles se depararam com os povos cananeus, que realizavam sacrifícios humanos, inclusive de crianças, para deuses pagãos como Moloque. 

 

A Bíblia menciona essas práticas horríveis em várias passagens, e uma das mais impactantes é a reforma religiosa do Rei Josias, registrada em 2 Reis 23:10. Josias tentou acabar com esses sacrifícios, profanando o lugar onde essas atrocidades ocorriam, o “Tofet”, no Vale dos Filhos de Hinom, ou Ben-Hinom, como é conhecido em hebraico.

 

Mesmo após a reforma de Josias, o culto a Moloque persistiu. A proximidade do vale com Jerusalém fazia com que os gritos das crianças sacrificadas ecoassem pela cidade, criando um contraste terrível com a adoração ao Deus de Israel que ocorria no Templo. Esse contraste profundo entre a santidade e a abominação marcou o Vale de Geena como um símbolo do mal, tanto na história bíblica quanto na tradição judaica e cristã.

 

 Geena e as menções Bíblicas

 

O Vale de Geena é citado diversas vezes na Bíblia, sempre associado a práticas pagãs e à condenação divina. Além da passagem em 2 Reis, o profeta Jeremias também denuncia os sacrifícios feitos no Vale de Hinom (Jeremias 32:35), reforçando o repúdio de Deus a essas práticas e a necessidade de purificação do povo de Israel.

 

O Novo Testamento também faz menção ao Vale de Geena, mas de uma forma que vai além da simples geografia. Jesus, conhecendo bem a história sombria do vale, utilizou-o como uma metáfora poderosa para o inferno e o julgamento final. Em Mateus 23:33 e Marcos 9:42-48, Ele adverte sobre o destino daqueles que não se arrependem de seus pecados, associando o Vale de Geena ao lugar onde “o fogo nunca se apaga” e “o verme nunca morre”.

 

Essa associação entre Geena e o inferno se consolidou ao longo dos séculos, levando à interpretação de Geena como o destino final dos ímpios. No entanto, é importante lembrar que, para Jesus e seus contemporâneos, Geena não era apenas uma metáfora teológica, mas um local real, visível e carregado de um passado sombrio e doloroso.

 

O vale do inferno nos dias de hoje

 

Atualmente, o Vale de Geena é um local verdejante e tranquilo, onde as crianças brincam e as famílias fazem piqueniques. Mas, ao caminhar por esse vale, é impossível ignorar sua história. É um lugar que carrega em si um contraste chocante: a beleza natural de hoje em comparação com o horror do passado. Ao refletir sobre isso, surge a questão: por que esse vale, tão próximo a Jerusalém, permaneceu praticamente sem construções ao longo dos séculos?

 

A resposta pode estar na maldição que parece ainda pairar sobre o local. Mesmo que a história sombria do vale não seja conhecida por todos, há algo nele que parece repelir a ideia de construção e habitação. Essa aura de “local amaldiçoado” pode ser uma das razões pelas quais Geena permaneceu um vale sem grandes construções, apesar da intensa urbanização ao seu redor.

 

Reflexão para os tempos modernos

 

A história do Vale de Geena nos oferece uma poderosa lição sobre a capacidade humana de cometer atrocidades em nome da fé ou da tradição. Nos tempos antigos, os sacrifícios a Moloque eram realizados por pais que acreditavam estar agradando a um deus cruel. Hoje, podemos nos perguntar: será que, de alguma forma, ainda estamos sacrificando nossos filhos aos “Moloques” modernos? 

 

Esses “Moloques” podem assumir diferentes formas — pressões sociais, expectativas culturais, ou mesmo as demandas de uma sociedade que valoriza o sucesso a qualquer custo. O Vale de Geena nos lembra da necessidade de proteger os inocentes e de garantir que nossas ações sejam guiadas por compaixão e sabedoria, e não por tradições cegas ou ambições destrutivas.

 

Assista a aula completa sobre o vale do inferno clicando no vídeo abaixo.

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