Ao observar um mapa, parece óbvio que, se os israelitas viviam na terra de Gósen, no Delta do Nilo, o caminho mais lógico para deixar o Egito seria a Via Maris, uma rota comercial que seguia ao longo da costa do Mediterrâneo. No entanto, essa estrada, apesar de ser a mais direta, estava fortemente guarnecida por fortificações e soldados egípcios.
Ainda que Deus pudesse aniquilar essas forças de forma milagrosa, Seu método de agir é muitas vezes sutil e repleto de significados. Como o próprio texto bíblico afirma (Êxodo 13:17), Deus evitou esse caminho para que o povo não desanimasse diante dos desafios. Além disso, Ele queria que os israelitas aprendessem a colaborar com Sua vontade. O milagre da abertura do mar, por exemplo, exigia que o povo o atravessasse ativamente, e não que fosse simplesmente transportado de um lado para o outro.
Mas afinal, qual foi o mar que os israelitas realmente atravessaram? Embora a resposta mais óbvia seja o Mar Vermelho, a questão não é tão simples quanto parece. Diferentes achados arqueológicos e interpretações bíblicas levaram especialistas a propor diversas localizações para a travessia.
A seguir, exploramos as três principais hipóteses sobre o local do milagre: o Golfo de Ácaba, o Golfo de Suez e os lagos pantanosos do Istmo de Suez.
Travessia pelo Golfo de Ácaba
Uma das teorias mais recentes sugere que os israelitas cruzaram o Golfo de Ácaba, o braço oriental do Mar Vermelho. Nesse cenário, a rota do Êxodo teria começado no Egito, seguido pelo Deserto do Sinai e, finalmente, atravessado o golfo até a atual região da Arábia Saudita.
Essa teoria também implica que o verdadeiro Monte Sinai não estaria na península do Sinai, mas sim na Arábia, em montanhas como Jabal al-Lawz ou Jabal Maqla.
Entre os defensores dessa hipótese, destaca-se Ron Wyatt, um arqueólogo amador que alegou ter encontrado evidências da travessia perto da cidade de Nuweiba, na margem ocidental do Golfo de Ácaba. Wyatt e seus seguidores baseiam-se em passagens como Êxodo 13:18 (“Deus fez o povo rodear pelo caminho do deserto, perto do Mar Vermelho”) e Gálatas 4:25, onde Paulo menciona que o Monte Sinai está na Arábia.
No entanto, essa teoria enfrenta diversas críticas. Primeiro, a distância e a complexidade da rota tornam a ideia pouco plausível. Além disso, não há evidências arqueológicas concretas que sustentem essa hipótese. Quando comparada ao restante do relato bíblico, a travessia pelo Golfo de Ácaba parece incoerente e confusa.
Travessia pelo Golfo de Suez
Outra teoria bastante popular sugere que os israelitas cruzaram o Golfo de Suez, a extremidade ocidental do Mar Vermelho. Esse é o local geralmente retratado em filmes e ilustrações, como no clássico “Os Dez Mandamentos” (1956) e na animação “O Príncipe do Egito” (1998).
Se essa teoria estiver correta, após cruzarem o mar, os israelitas teriam seguido para a Península do Sinai em direção ao Monte Sinai, localizado no sul da península.
No entanto, há um problema significativo nessa interpretação: a geografia da região do Suez não corresponde à descrição bíblica da rota do Êxodo. Por exemplo, em Êxodo 15:22 e Números 33:8, o texto menciona que os israelitas chegaram ao Deserto de Sur, enquanto se tivessem cruzado o Golfo de Suez, teriam entrado no Deserto de Parã ou no Caminho de Seir.
Outro ponto importante é que, segundo Números 33, após a travessia do mar, o povo fez várias paradas antes de chegar novamente ao Mar Vermelho (verso 10). Esse detalhe sugere que o primeiro mar atravessado estava mais ao norte, fora do Golfo de Suez, enfraquecendo essa teoria.
Travessia pelos Lagos Pantanosos do Istmo de Suez
Uma terceira possibilidade é que a travessia aconteceu em algum dos lagos pantanosos que existiam entre o Delta do Nilo e o Deserto do Sinai. Essa região, conhecida como Istmo de Suez, possuía diversos corpos d’água que separavam o Egito da Península do Sinai.
Na época do Êxodo, essa área incluía pelo menos cinco grandes lagos:
- Lago Manzala
- Lago Shihor
- Lago Ballah
- Lago Timsah
- Lagos Amargos
Muitos estudiosos acreditam que o Golfo de Suez se estendia mais ao norte no passado, conectando-se a esses lagos. O egiptólogo Édouard Naville, por exemplo, argumentava que essa depressão geográfica indica que o mar avançava muito mais para dentro do continente do que hoje.
Além disso, textos egípcios antigos mencionam essa área em referência a divindades e fronteiras do Egito, o que sugere que os lagos eram uma importante barreira natural.
Essa teoria ganha força porque se encaixa com as descrições bíblicas, incluindo a distância percorrida pelos israelitas e a localização das fortalezas egípcias na Via Maris. Além disso, como o próprio texto sugere, os israelitas não cruzaram um grande oceano, mas sim um “mar de juncos” (tradução literal de algumas passagens hebraicas), o que pode indicar essas águas rasas e pantanosas.
No entanto, um desafio dessa teoria é que os lagos pantanosos não eram, tecnicamente, parte do Mar Vermelho. Ainda assim, há indícios de que no passado eles poderiam ter sido considerados uma extensão do mar, o que sustentaria a hipótese.
Onde aconteceu a travessia?
A localização exata da travessia do Mar Vermelho continua sendo um mistério. No entanto, as evidências indicam que a hipótese dos lagos pantanosos pode ser a mais plausível, tanto pela geografia quanto pela narrativa bíblica.
A travessia pelo Golfo de Ácaba parece improvável devido à longa rota e à falta de provas concretas. Já a travessia pelo Golfo de Suez, embora popular, apresenta inconsistências com o texto bíblico.
Independentemente da localização exata, o que importa é o significado do evento: um momento decisivo na história de Israel, marcado pelo poder e pela providência divina.
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