Quando o apóstolo Paulo afirmou que “toda Escritura é inspirada por Deus” (2Timóteo 3:16), ele se referia à coleção de livros sagrados conhecidos em sua época: a Lei, os Profetas e os Salmos (Lucas 24:44). No entanto, já existiam evidências de que os evangelhos — pelo menos os de Mateus e Lucas — também eram considerados Escritura.
Isso fica claro quando Paulo, em 1Timóteo 5:18, cita Deuteronômio 25:4 junto com trechos de Mateus 10:10 e Lucas 10:7, chamando ambos de “Escritura” (veja também 1Coríntios 9:9,14). Dessa forma, tanto o Antigo quanto o Novo Testamento são reconhecidos como Palavra de Deus, inspirada para guiar os cristãos (1Coríntios 2:10-13; 2Pedro 3:15-16).
Mas como aconteceu essa inspiração? Será que os escritores bíblicos receberam as palavras diretamente de Deus, como um ditado divino, ou foi um processo mais complexo?
O Que Significa a Inspiração Bíblica?
A inspiração da Bíblia envolve um agente humano usado por Deus para registrar sua mensagem. O autor das Escrituras aos Hebreus confirma isso ao dizer que “Deus falou nos tempos antigos aos pais pelos profetas” (Hebreus 1:1).
No entanto, a maneira como essa revelação aconteceu tem sido debatida ao longo dos séculos. O teólogo alemão Karl Rahner trouxe uma explicação interessante sobre o fenômeno da inspiração. Ele observou que, em alemão, existem dois termos diferentes para “autor”:
- Verfasser – o escritor literário, que realmente redige um texto.
- Urheber – o originador da obra, aquele que dá a ideia ou propósito.
Segundo Rahner, Deus não é o autor literário da Bíblia no sentido de que ditou cada palavra como se estivesse usando um teclado. Em vez disso, Ele é o originador da Escritura, inspirando os pensamentos e ensinamentos dos profetas, mas permitindo que cada um escrevesse com sua própria linguagem, cultura e estilo.
Essa perspectiva ajuda a entender por que os diferentes livros da Bíblia refletem as personalidades e características de seus autores. O Espírito Santo não anulou a individualidade dos escritores, mas os guiou para registrar a mensagem divina de maneira fiel e autêntica.
A Bíblia: Um Livro Divino, Mas Não Ditado do Céu
Se a Bíblia não foi simplesmente “baixada” do céu como um texto pronto, então como ela foi formada? A resposta está no próprio testemunho bíblico.
Davi, por exemplo, declarou:
“O Espírito do Senhor fala por mim, e a sua palavra está na minha língua.” (2 Samuel 23:2)
Isso mostra que os profetas e escritores sagrados estavam conscientes da ação divina, mas ainda assim expressavam as palavras com sua própria linguagem e contexto.
O teólogo Westcott (citado por Apolinário, 1989) reforça essa ideia ao afirmar que a inspiração bíblica não anulava a humanidade do escritor, mas sim aproveitava suas características naturais para transmitir a mensagem de Deus.
Isso explica, por exemplo, por que a linguagem e o estilo de João e Pedro são simples e diretos, enquanto os escritos de Paulo são mais elaborados e cheios de figuras literárias. Da mesma forma, a carta aos Romanos é muito mais refinada do que o discurso de Pedro registrado em Atos 3.
Em outras palavras, a Bíblia é um livro divino, mas escrito por mãos humanas. Deus não eliminou a personalidade dos autores, mas usou cada um conforme seu talento e contexto.
Como Deus se comunicava antes da Bíblia?
É interessante notar que, segundo o relato bíblico, Deus não planejou desde o início usar um livro para se comunicar com a humanidade.
Nos primeiros capítulos de Gênesis, Adão e Eva tinham contato direto com Deus e, possivelmente, com seres celestiais. A comunicação era aberta, sem intermediários.
No entanto, a entrada do pecado quebrou essa relação (Isaías 59:2), e Deus precisou usar diferentes meios para se revelar à humanidade. Alguns deles foram:
- Anjos em forma humana – Exemplo: Zacarias 1:9; Lucas 1:11,18,19.
- Visões – Como as recebidas por Daniel e João (Daniel 7:2; Apocalipse 1:19).
- Sonhos – José e outros personagens tiveram revelações dessa forma (Gênesis 37:5,9; Números 12:6).
- Ação do Espírito Santo – Inspirando diretamente profetas (2Samuel 23:11,12; 2Pedro 1:21).
- A natureza como testemunho de Deus – Como mencionado em Romanos 1:20 e Colossenses 1:13-18.
- Revelações especiais, até mesmo por não profetas – Como a esposa de Pilatos em Mateus 27:19.
Ainda hoje, Deus pode se manifestar de algumas dessas formas. Mas, ao longo da história, Ele escolheu um meio mais seguro e confiável para preservar sua revelação: a Escritura Sagrada.
O canal de contato
Ao perceber que os outros meios de comunicação podiam ser temporários ou sujeitos a falhas humanas, Deus guiou certos homens escolhidos para registrar sua mensagem por escrito.
Assim, os textos sagrados foram sendo compilados ao longo dos séculos, passando por rascunhos, revisões e edições, até que a Bíblia como conhecemos fosse formada.
“Nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho…” (Hebreus 1:1-3)
A revelação máxima de Deus, no entanto, aconteceu na pessoa de Jesus Cristo. Ele não apenas transmitiu a Palavra de Deus — Ele era a própria Palavra viva (João 1:1).
Portanto, a Bíblia não é apenas um livro histórico ou um conjunto de regras religiosas. Ela é o registro inspirado da revelação divina, preservado para guiar a humanidade no conhecimento de Deus.
A Bíblia é confiável?
A formação da Bíblia envolveu séculos de inspiração, escrita e preservação. Deus escolheu usar homens falíveis, mas guiados pelo Espírito Santo, para registrar sua mensagem.
Mesmo que os estilos e linguagens variem, o conteúdo essencial das Escrituras permanece divinamente inspirado e confiável.
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4 respostas
Bom dia
É lindo saber que Deus nos ama tanto, mesmo com pecado, Ele teve a sensibilidade de nos deixar uma carta aberta (as escrituras) nos direcionando, nos confortando e dando esperança de uma vida sem dor. Deus é lindo♥️
Quero muito aprender mais sobre as Escrituras Sagradas.
Muito obrigado, por estar sempre nos ajudando a compreender melhor a palavra de Deus.
Você é luz, e que possamos também ser luz na vida de outras pessoas.